Você sabe que tinta é usada na sua tatuagem?
Uma reportagem sobre o uso de tintas tóxicas por estúdios de tatuagem veiculada no Jornal da Band na semana passada acendeu a luz amarela para a qualidade da tinta usada pelos estúdios. A reportagem que investigou estúdios durante quatro meses revelou que análises identificaram uma grande quantidade de metais pesados na tinta Supreme, que são cancerígenos e podem afetar até o cérebro. O fabricante que vende o produto sem regulamentação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já foi denunciado pelo Ministério Público, e mesmo tendo todo o estoque recolhido da sede da empresa em São Paulo por ordem judicial segue vendendo a tinta pelo site. O MP tenta agora tirar o site do ar. ASSISTA AQUI A REPORTAGEM.
O Mundo das Tatuagens indica em seu site cinco estúdios e perguntou a eles a respeito da qualidade da tinta usada. Nem todos puderam nos responder a tempo e deixamos aqui o espaço aberto para responderem depois. O Marcus e Michelle do Rinzo Tattoo e o Jairon puderam nos responder. Segue abaixo a pequena entrevista que fizemos com eles.
Mundo das Tatuagens: Quais marcas de tinta usas no teu estúdio? Tem alguma preferência? Por quê? Rinzo: Só usamos tinta Electric Ink e mais nenhuma outra, porque desde o início ela me foi apresentada como a única regulamentada pela Anvisa e desde então fazemos questão de trabalhar com materiais regulamentados, não só tintas como todos os outros materiais. E a única preferência ou melhor dizendo, exigência é por materiais regulamentados. Jairon: As tintas que uso no studio são Electric Ink, desde que me formalizei como tatuador sempre procurei utilizar as tintas e materiais que são legalizados pela Anvisa.
MdT: A tinta ser liberada pela Anvisa é um cuidado que observas ao comprá-la?Rinzo: Não só. Deve-se atentar também data de fabricação, prazo de validade, número do lote, lacre, e o CRQ (liberação do Conselho Regional de Química).Jairon: Sempre me preocupo se tem o registro da Anvisa, mas pelo que sei no Brasil só existem três marcas registradas.
MdT: Os clientes perguntam qual é a tinta que será usada antes de fazerem a tatuagem? Rinzo: Alguns perguntam, mas como de costume eu sempre monto a mesa na presença do cliente pra que ele acompanhe todo o procedimento, além disso também informamos o que está sendo usado como nome dos materiais e procedência, e deixamos aberto a dúvidas e perguntas. Jairon: Alguns me perguntam se a tinta é importada, e nunca se tem o registro. Acho errado em pensar que uma tinta importada é muito melhor que a nacional.
MdT: Usas ou já usaste a tinta Supreme? Rinzo: Não. Há quem diga que as tintas mais grossas (com mais pigmento) são melhores pra pintar proporcionando uma melhor pigmentação da pele, e já ouvi dizerem que a Electric Ink era muito aguada e não pigmentava legal, mas sempre trabalhei com ela e nunca senti isso. Jairon: Nunca usei a Supreme, mas não por conta da marca e sim por falta do registro e também pelo costume e confiança em usar a Electric Ink.
Além da Eletric Ink, a Anvisa libera também as tintas Iron Works e Starbrite. Recomendamos expressamente que além de escolherem com muita atenção o estúdio onde farão suas tatuagens, nossos leitores devem continuar observando a assepsia do local e a qualidade dos materiais usados, e não custa nada anotar os nomes das tintas liberadas e levar no bolso para conferir com seu tatuador.
Apenas três tintas para tatuagem têm registro no Brasil
Este mês, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a suspensão do comércio e do uso de uma tinta para tatuagem vendida sem registro no Brasil. O gerente-geral de Tecnologia de Produtos para a Saúde, Joselito Pedrosa, alerta que apenas três marcas de tintas podem ser comercializadas no país: Starbrite Colors – Amazon Indústria, Comércio, Exportação e Importação de Produtos Especializados; Electric Ink Indústria Comércio, Importação e Exportação Ltda e Iron Works – Brasil Ltda.
Em entrevista à Agência Brasil, ele explicou que uma tinta, para ser registrada no país para fins de tatuagem ou dermopigmentação, precisa atender à legislação vigente, que exige que a empresa tenha boas práticas de fabricação. Isso significa comprovar a segurança e a eficácia do produto.
“A empresa faz testes durante o processo de fabricação, controlados por um sistema de qualidade. Para dar entrada no processo de registro, ela tem que apresentar toda a documentação que comprove a realização desses testes. É preciso comprovar que o produto é seguro e eficaz. Se tudo estiver de acordo, ele pode ser liberado com número de registro, e a empresa pode comercializar.”
Os testes, de acordo com Pedrosa, seguem normas nacionais e internacionais e verificam, entre outros, a toxicidade e a biocompatibilidade do produto. A tinta para tatuagem que é vendida sem ter passado por toda essa verificação corre o risco de estar contaminada com bactérias e fungos e pode desencadear uma reação alérgica leve ou grave, podendo causar a morte.
“Pode levar também à indução de um câncer. Há uma série de complicações às quais a população fica sujeita em decorrência do uso de um produto ilegal”, acrescentou.
A orientação para quem quer fazer uma tatuagem, segundo ele, é verificar se o produto oferecido pelo estúdio tem registro na Anvisa. Em seguida, é preciso ter certeza de que o registro é válido, acessando o site da agência. Isso porque, no caso de produtos piratas, muitas vezes, o registro utilizado na embalagem é falso.
Para o tatuador Erik Pazioline, outra estratégia importante a ser adotada por quem quer fazer uma tatuagem é verificar se o estúdio tem alvará de funcionamento e se está com as licenças sanitárias em dia. “E se informar com o tatuador sobre o material que ele usa”, disse. “[Em casos de tintas irregulares], o que mais acontece são alergias, uma infecção ou uma inflamação, que são muito sérias. Não é o certo. É perigoso. Tem que usar sempre a tinta legalizada”, concluiu.